Por que minha conta de luz está tão alta em 2025? 7 causas ocultas
Se você abriu sua conta de luz em 2025 e levou um susto com o valor, não está sozinho. As tarifas residenciais de energia elétrica acumulam alta de 16,42% entre janeiro e setembro de 2025, tornando-se um dos principais vilões da inflação brasileira. Mas o que realmente está por trás desse aumento?
Muitos consumidores olham apenas para o consumo em kWh e não entendem por que a conta continua subindo, mesmo economizando energia. A verdade é que a conta de luz brasileira esconde uma série de custos que vão muito além da energia que você consome. Neste artigo técnico, vamos destrinchar as 7 causas ocultas que fazem sua fatura disparar — e o que você pode fazer a respeito.
1. Encargos Setoriais: O Peso Invisível de R$ 47 Bilhões
Uma das causas mais significativas — e menos compreendidas — do aumento na conta de luz são os encargos setoriais. O orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) teve aumento de 32,4% em relação a 2024, quando custou R$ 37,2 bilhões.
O orçamento da CDE para 2025 será R$ 49,2 bilhões, valor R$ 8,6 bilhões maior que o previsto anteriormente. Desse total, R$ 46,8 bilhões serão repassados diretamente aos consumidores na forma de encargos nas tarifas.
O que são encargos setoriais?
Os encargos setoriais são taxas criadas por leis federais para financiar políticas públicas do setor elétrico. Entre os principais estão:
- CDE (Conta de Desenvolvimento Energético): Financia programas como Tarifa Social e Luz para Todos
- Proinfa: Incentiva fontes alternativas de energia
- P&D e PEE: Pesquisa, desenvolvimento e eficiência energética
- ESS e EER: Segurança energética e energia de reserva
As obrigações representam quase 40% do custo tarifário total da energia elétrica e, em geral, não estão atreladas ao funcionamento do setor. Isso significa que você está pagando por políticas públicas através da sua conta de luz.
2. Impostos: Cerca de 30% do Valor Total
Se os encargos já pesam, os impostos completam o cenário. Os tributos correspondem a cerca de 30% do valor da tarifa.
Os principais impostos na conta de luz são:
ICMS (Estadual)
O ICMS equivale à cerca de 81% do que é da parcela de impostos cobrados na conta de energia. A alíquota varia por estado, podendo chegar a 18% em São Paulo e até 30% em outros estados.
PIS e COFINS (Federais)
Pis/Pasep/Cofins: 5% do valor da conta. Esses tributos federais financiam programas sociais como Seguro Desemprego e Previdência Social.
CIP (Municipal)
A Contribuição de Iluminação Pública varia conforme o município e financia a manutenção de postes e iluminação de ruas.
Importante: Tanto o ICMS como PIS/COFINS integram sua própria base de cálculo, sendo denominado cobrança "por dentro", ou seja, os impostos são pagos sobre o próprio imposto. Isso infla ainda mais o valor final.
3. Bandeiras Tarifárias: Custos Extras Mensais
As bandeiras tarifárias são um sistema criado pela ANEEL para refletir o custo real de geração de energia. Com isso, os consumidores terão custo extra de R$ 7,87 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos quando a bandeira vermelha patamar 2 está acionada.
Como funcionam as bandeiras?
- Verde: Sem custo adicional
- Amarela: R$ 1,885 por 100 kWh
- Vermelha Patamar 1: R$ 4,463 por 100 kWh
- Vermelha Patamar 2: R$ 7,877 por 100 kWh
A adoção da bandeira no patamar 2 ocorreu diante do cenário de chuvas abaixo da média em todo o país, o que reduziu a geração hidrelétrica. Esse quadro eleva os custos de geração de energia, devido à necessidade de acionamento de fontes mais caras, como as usinas termelétricas.
Em 2025, desde dezembro de 2024, a bandeira tarifária permanecia verde, por causa das condições favoráveis de geração de energia no país, mas voltou a subir em agosto.
4. Reajuste Tarifário: Inflação e Custos Operacionais
Os índices de reajuste e revisão das tarifas de energia elétrica devem ficar abaixo da inflação em 2025, com efeito médio de 3,5%, segundo projeção da ANEEL. No entanto, As contas de luz de consumidores residenciais e comerciais devem registrar um aumento médio de 4,67% em 2025. Apesar dessa projeção, as revisões tarifárias devem variar entre as distribuidoras, oscilando entre uma queda de até 3% e aumento de até 13%.
Por que varia tanto?
A maior responsável pelo aumento nas tarifas é a Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd), que deverá responder por cerca de 90% da elevação nas contas. E as duas principais fontes de pressão sobre a Tusd são: Conta de Desenvolvimento Energético (CDE): O fundo destinado a financiar políticas públicas e subsídios no setor elétrico deve aumentar em 23% em 2025.
Além disso, Outro fator que contribui para o aumento tarifário em 2025 é a previsão de alta de 12,51% nos preços de compra e venda de energia entre concessionárias e consumidores.
5. Horário de Ponta: Quando a Energia Fica Até 3x Mais Cara
Poucos consumidores sabem, mas o horário em que você usa energia pode fazer uma diferença enorme na conta. O horário de ponta é, por definição, o período do dia em que ocorre um pico na demanda por energia elétrica. No Brasil, em razão dos hábitos da população, esse horário costuma ocorrer entre 17h e 21h.
Em comparação, o valor da tarifa de energia elétrica e demanda pode chegar a ser três vezes maior nos horários de pico ou de ponta, em comparação com os horários restantes do dia.
Tarifa Branca: Oportunidade ou Armadilha?
A Tarifa Branca oferece preços diferentes conforme o horário:
- Horário de Ponta (3 horas consecutivas, geralmente 17h-20h): Tarifa mais cara
- Horário Intermediário (1 hora antes e depois da ponta): Tarifa intermediária
- Horário Fora de Ponta (demais horários): Tarifa mais barata
A Tarifa Branca não é recomendada quando o consumo maior ocorre em períodos de ponta (pico de energia) e intermediários. Portanto, avalie seu perfil de consumo antes de aderir.
6. Perdas Técnicas e Não Técnicas: Você Paga por Energia Que Não Consome
Um dos aspectos mais injustos da conta de luz brasileira é que você paga por energia que nunca chegou à sua casa.
Perdas Técnicas
O custo aproximado das perdas técnicas, obtido pela multiplicação dos montantes pelo preço médio da energia nos processos tarifários em 2024, sem considerar tributos, foi de R$ 11,2 bilhões. Essas perdas ocorrem naturalmente durante a transmissão e distribuição de energia pelos fios e transformadores.
Perdas Não Técnicas ("Gatos")
Essas perdas, também conhecidas como "gatos", estão associadas à gestão da concessionária e às características socioeconômicas das áreas de concessão e representaram, no ano passado, um custo da ordem de R$ 10,3 bilhões.
As 10 distribuidoras com maiores montantes de perdas em 2024 respondem por 74,0% das perdas não técnicas do Brasil, sendo que Light (RJ) e Amazonas Energia (AM), as duas primeiras colocadas no ranking, respondem por 34,1%.
Isso significa que consumidores regulares subsidiam o furto de energia em regiões com alta incidência de fraudes.
7. Eletrodomésticos Ocultos: Vilões Silenciosos do Consumo
Mesmo com todas as taxas e encargos, o consumo real ainda representa uma parcela significativa da conta. Mas nem sempre os vilões são óbvios.
Os maiores consumidores residenciais:
Ar-condicionado: Segundo dados do Centro Brasileiro de Informação de Eficiência Energética (Procel), aquele que for menor ou igual a 9 mil BTU/h tem consumo médio mensal de 128,80kWh se usado por 8 horas em 30 dias. Durante o mesmo período e tempo de uso, um split maior do que 30 mil BTU/h consome 679,20.
Chuveiro elétrico: Sua utilização pode levar a um gasto mensal de 88 kWh em média, o que varia conforme a potência do equipamento e o tempo de uso diário.
Geladeira: Por ficar ligada 24h, Uma geladeira duplex, que possui uma porta para a geladeira e outra para o freezer, consome em média 117 kWh por mês.
Aparelhos em stand-by: Esses aparelhos podem representar até 12% do uso total de energia elétrica, segundo estimativa do Inmetro.
Dica prática
Desligar aparelhos da tomada quando não estiverem em uso e evitar banhos prolongados no horário de ponta (17h-21h) pode gerar economia significativa.
Composição Real da Conta de Luz em 2025
Para entender o peso de cada componente, veja a composição média:
A composição média dessa tarifa é liderada por compra de energia (43%), seguida por custos com distribuição (31%) e encargos setoriais (18%). Os impostos completam o restante.
Isso significa que apenas 43% do que você paga é pela energia que realmente consome. Os outros 57% são custos regulatórios, impostos e encargos.
Quando a Portabilidade de Energia NÃO é a Solução
Apesar de todas essas causas de aumento, é importante reconhecer que a portabilidade de energia não é uma solução universal. Não recomendamos a portabilidade para:
- Consumidores com consumo muito baixo (abaixo de 150 kWh/mês): O desconto pode não compensar o prazo de ativação
- Quem mora em regiões com tarifas já subsidiadas: Alguns programas sociais oferecem descontos melhores
- Consumidores que já possuem energia solar própria: A economia já está otimizada
- Empresas em processo de mudança de endereço: O prazo de 60-90 dias pode não ser compatível
- Quem precisa de flexibilidade imediata: O mercado cativo permite mudanças mais rápidas
É fundamental avaliar seu perfil de consumo, histórico de contas e necessidades específicas antes de tomar qualquer decisão.
Como Reduzir o Impacto na Sua Conta
Diante desse cenário complexo, existem estratégias práticas:
- Monitore seu consumo no horário de ponta: Evite usar chuveiro, ar-condicionado e máquina de lavar entre 17h e 21h
- Desligue aparelhos da tomada: Elimine o consumo fantasma de stand-by
- Invista em equipamentos eficientes: Aparelhos com selo Procel A consomem até 40% menos
- Considere alternativas de mercado: Plataformas como energialex.app oferecem simulação gratuita de portabilidade, permitindo economia de até 20% para residências sem custo de adesão
- Acompanhe as bandeiras tarifárias: A ANEEL divulga mensalmente a cor da bandeira vigente
Conclusão
A conta de luz alta em 2025 não é resultado de um único fator, mas de uma combinação complexa de encargos setoriais (R$ 47 bilhões), impostos (30% da tarifa), bandeiras tarifárias (até R$ 7,87/100kWh), reajustes anuais (média de 4,67%), horários de ponta (até 3x mais caro), perdas técnicas e não técnicas (R$ 21,5 bilhões), e consumo de eletrodomésticos.
O sistema tarifário brasileiro é um dos mais complexos do mundo, com custos que vão muito além da energia consumida. A tarifa média de energia elétrica cresceu 241% entre 2001 e 2018, mais do que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que oscilou 181% no mesmo período. Ou seja, a energia elétrica tem se tornado mais cara em termos reais, impactando o poder de compra da população.
Compreender essas 7 causas ocultas é o primeiro passo para tomar decisões informadas sobre seu consumo e buscar alternativas de economia. Seja através de mudanças de hábitos, investimento em eficiência energética ou exploração de opções como a portabilidade de energia, o conhecimento técnico é seu maior aliado para reduzir custos.
Ferramentas gratuitas como energialex.app facilitam a análise do seu perfil de consumo e simulam economia potencial sem compromisso.
Sobre a autora
Ava Mendes é especialista em energia renovável e economia doméstica. Ajuda consumidores residenciais e empresariais a reduzirem custos com eletricidade através de portabilidade de energia. Conheça soluções gratuitas em energialex.app
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